
Atualmente, a insuficiência/deficiência de vitamina D tem sido considerada um problema de saúde pública no mundo todo, em razão de suas implicações no desenvolvimento de diversas doenças. A vitamina D foi denominada desta forma em 1922, pois naquela época acreditava-se que ela só poderia ser obtida por intermédio da alimentação. Ela foi batizada de D por ter sido a quarta substância descoberta, depois das vitaminas A, B e C. A partir da década de 1970 os pesquisadores descobriram que a vitamina D poderia ser sintetizada pelo organismo, ou seja, na realidade ela é um hormônio, não uma vitamina.
A pré-vitamina D é produzida na pele, onde, através de foto-reação mediada pela luz solar, isomeriza-se em vitamina D. É metabolizada no fígado em 25-hidroxivitamina D. Esta é o substrato para a formação do verdadeiro hormônio, a 1,25-dihidroxivitamina D, que ocorre sob a influência do cálcio sérico e do hormônio da paratireoide (PTH).
A doença causada pela deficiência de vitamina D em indivíduos adultos se estabelece de forma sutil, com hipocalcemia leve, hiperparatireoidismo reacional, gerando perdas ósseas o que leva a um risco aumentado de fraturas. Essa doença é muito prevalente na Europa, África, América do Norte e alguns países da América do Sul, como Chile e Argentina. O padrão-ouro para o diagnóstico de hipovitaminose D é a dosagem de 25-hidroxivitamina D no soro. Embora a forma ativa da vitamina D seja a 1,25-dihidroxivitamina D, esta não deve ser utilizada para avaliar sua concentração sérica, uma vez que sua meia-vida é de apenas 4 h e sua concentração é 1.000 vezes menor do que a de 25-hidroxivitamina D.
A vitamina D é bastante conhecida pela sua função no desenvolvimento e na manutenção do tecido ósseo, bem como pela manutenção da homeostase normal do cálcio e do fósforo. Porém, evidências recentes sugerem o envolvimento dessa vitamina em diversos processos celulares vitais, como: diferenciação e proliferação celular, secreção hormonal (por exemplo: insulina), assim como no sistema imune e em diversas doenças crônicas não transmissíveis.
A interação da vitamina D com o sistema imunológico vem sendo alvo de um número crescente de publicações nos últimos anos. Estudos atuais têm relacionado a deficiência de vitamina D com o surgimento de várias doenças, como diabetes mellitus insulino-dependente, hipertensão arterial, obesidade, esclerose múltipla, doença inflamatória intestinal, lúpus eritematoso sistêmico e artrite reumatoide.
O que preciso saber?
Fatores de risco para hipovitaminose D:
– Pouca exposição à luz UVB;
– Uso excessivo de roupas;
– Uso de bloqueadores solares;
– Confinamento em locais onde não há exposição à luz UVB;
– Diminuição da capacidade de sintetizar vitamina D pela pele;
– Envelhecimento;
– Fototipo.
Como vimos anteriormente, a principal fonte de vitamina D em humanos é a exposição à luz solar, contudo, na sociedade contemporânea, em grande parte da população esta exposição é insuficiente. Neste momento, este hormônio passa a ter um comportamento que justificou no passado ser considerado um nutriente: a dieta tornou-se sua principal fonte. A dieta ocidental, porém, é pobre em Vitamina D; suas fontes naturais são óleo de peixe, peixes com alto teor de gordura e gema de ovo.
Todos os alimentos fontes de vitamina D são de origem animal porque as fontes vegetais não conseguem sintetizar a vitamina da maneira como os alimentos provenientes de animais. Até mesmo o alimento com as maiores quantidades da substância, o salmão, conta com somente 6,85% das necessidades diária de vitamina D em uma porção de 100 gramas.
Confira alguns alimentos que possuem vitamina D:
| Alimento | Quantidade de vitamina D | Porcentagem do valor diário de vitamina D |
| Atum (100 gramas) | 227 unidades | 2,27% |
| Sardinha (100 gramas) | 193 unidades | 1,93% |
| Ovo (uma unidade) | 43,5 unidades | 0,43% |
| Queijo cheddar (50 gramas) | 12 unidades | 0,12% |
| Carne bovina (100 gramas) | 15 unidades | 0,15% |
Fonte: Tabela do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos.
O consumo da vitamina D é essencial para as gestantes, a falta dela pode levar a abortos no primeiro trimestre. Já no final da gravidez, a carência do nutriente favorece a pré-eclâmpsia, já que influencia na produção de renina, hormônio regulador da pressão arterial. A falta da vitamina também aumenta as chances da criança ser autista, pois o nutriente é importante para o desenvolvimento do cérebro do bebê.
Uma pesquisa publicada no The American Journal of Clinical Nutrition feita com mais de 1000 gestantes, observou que quando a mulher ingere a vitamina D os riscos do bebê desenvolver problemas respiratórios diminuem. Outro estudo feito pela Universidade da Carolina do Sul, dos Estados Unidos, com 500 gestantes observou que o suplemento de vitamina D previne problemas como diabetes gestacional, parto prematuro e infecções.
Já em idosos há menor produção da vitamina em resposta à exposição ao sol por questões metabólicas relacionadas à idade. A quantidade da substância produzida em uma pessoa de 70 anos é, em média, um quarto da que é sintetizada por um jovem de 20 anos. Por isso, é interessante que os idosos conversem com seus médicos sobre a possibilidade de consumir suplementos de vitamina D.
Vale ressaltar que a suplementação oral de Vitamina D, método simples e relativamente barato, corrige deficiências ou insuficiências da vitamina. Os suplementos de vitamina D podem ser utilizados em casos de constatação de carência da substância ou no tratamento de algumas doenças. A falta do nutriente é verificada através da dosagem de 25-hidroxivitamina D, como foi citado anteriormente. É importante observar, ainda, que os suplementos só devem ser tomados após orientação médica. Em alguns tratamentos são orientadas superdoses de vitamina D, ou seja, uma quantidade além do que é normalmente prescrito, por isso o consumo deve ser feito com a orientação de seu médico, profissional habilitado e capacitado para interpretação de seus resultados.
E você, já dosou sua vitamina D?
Obs.: O Laboratório Oswaldo Cruz orienta jejum prévio de 8h para realizar a coleta.
Fontes:
– Garcia VC, Martini LA, Schuch, NJ. Vitamin D and endocrine diseases. Arq Bras Endocrinol Metab. 2009; 53/5.
– Dantas AT, Duarte ALBP, Fragoso TS, Marques CDL. A importância dos níveis de vitamina D nas doenças autoimunes. Rev. Bras. Reumatol. vol.50 no.1 São Paulo Jan./Feb. 2010.
– Furnaletto TW, Premaor MO. Hipovitaminose D em Adultos: Entendendo Melhor a Apresentação de Uma Velha Doença Arq Bras Endocrinol Metab vol 50 nº 1 Fevereiro 2006.